Parte II
Há cinco anos vivo
nesta constante procura que atormenta minha alma, porque sei que estou ferindo
corações por onde passo da mesma forma como o meu está. Além de deixar todos
preocupados com o ser deplorável que me tornei. Diego é o único que sabe o que
aconteceu e compartilha da minha dor. Mesmo não agindo como os outros. Percebo
a preocupação dele, sempre me protegendo, todas as vezes que nossa família ou
amigos comentam sobre minha mudança.
Ele estava lá, e é
por isso também que sei que nada daquilo foi um sonho...
- Good Night Fainello’s!
- Buonasera Brown! A casa vai lotar hoje ou não?
- É o que espero
Luca, é o que espero. – rindo a toa – Mas que cara é está Diego? – intrigado.
- A que Dio me deu
– entrando.
- Hã? O que está
acontecendo Luca?
- Nada não ele só
brigou com a Giulia, só isso – entrando juntamente com Brown.
- A 40[1]? –
indo em direção ao bar.
- A própria. –
seguindo-o – A garota tá cada dia pior – pegando um copo que o velho lhe dava.
- O que ela
aprontou desta vez – bebendo do mesmo liquido que dará a Luca.
- Humm... – também
bebendo – Ela quer que o Diego a leve a festa de Ano Novo dos Tredescci.
- What? – se
engasgando com o liquido quente na garganta.
- É! – rindo da
expressão intrigada do amigo – Parece que ela tá com “ciúmes” da Alessa –
fazendo as aspas quando fala a palavra ciúmes.
- Ah! Tá explicado
– rindo e saindo do bar – A 40 realmente tem que ficar com ciúmes da Alessa
ainda mais porque todos sabem o quanto Diego gosta dela.
- Ela não está com
ciúmes Brown – rindo e indo se sentar em uma das mesas ao lado.
- Como não? –
puxando uma cadeira na mesa – Você acabou de dizer isso – se sentando junto a
Luca sem se esquecer da bebida.
- Você não viu as
aspas que fiz com as mãos não? – refazendo-as – Giulia não está com ciúmes, o
que ela tem é simplesmente inveja da Alessa – também não se esquecendo da
bebida, conferindo se o irmão estava por perto ou dava para ele ouvir a
conversa deles – Ela sempre foi assim desde quando éramos crianças, mamma diz
que é inveja compartilhada, já que a mamma da Giulia era apaixonada pelo Carlo
e nunca se conformou de tê-lo perdido para uma “carcamana brasiliana” como ela
chama a Margarida.
- Carcamana
brasiliana?
- Sin!
- Oh my Good! –
elevando as mãos ao céu – Fiorella é que é una carcamana e não Margarithe. –
revoltado – Carlo teve sorte de ter se casado com ela e não com Fiorella, mas
não consigo entender o por que deles terem se separado depois de tantos anos de
casamento? – passando a boca pelo copo intrigado.
- Questo è uma còsa
que ninguém entende Brown – rindo – Mas mudando de assunto a reforma ficou
bellissima! – dando uma bela olhada ao redor
- Beautiful! –
olhando o salão todo sorridente.
Fazia um mês que
não íamos a Londres, eu estava muito atarefado com meu trabalho na grife e
Diego por conta das provas finais na universidade e das constantes brigas com Giulia
que haviam aumentado quando ela descobriu sobre a festa dos Tredescci e a volta
de Alessa a Verona depois de três anos vivendo com a mamma dela no Brasil,
estavam o deixando completamente maluco.
Alessa é a paixão
platônica do Diego pode se dizer assim, todos sabem disso desde quando éramos
crianças até mesmo ela, a única pessoa que não admite isso é o próprio Diego.
Nunca entendi o porquê dele jamais ter se declarado para ela acho que nem ele
mesmo entende isso... A única coisa que o conforta nessa situação é a amizade
que eles possuem. Eu acho... Já faz cinco anos que não a vemos, a ultima vez
foi naquele ano novo e nunca mais nem mesmo quando fomos ao Brasil receber um premio
e divulgarmos nosso trabalho conseguimos vê-la ou mesmo falar com ela.
Como falei havia
quase um mês que não colocávamos nossos pés em Londres, o número de shows havia
caído muito por conta de nossos trabalhos paralelos. Ainda não sobrevivíamos
apenas da música e muito menos o nome da banda era Sonohra[2] ou
sonhávamos ganhar o Festival de Sanremo[3] e
sermos conhecidos no mundo todo pelo nosso som.
O Scarlate’s Pub
era o local em que mais cantávamos quando estávamos na cidade, Brown o dono do
bar é amicco de babo de longas datas e também o dono de vários outros pub’s na
cidade, mas aquele era especial, pois segundo ficamos sabendo em um dos porres
de Scoth que Brown teve uma vez, foi naquele Pub que ele conheceu e perdeu a
única mulher que amara em toda a vida. Isso é engraçado... pois fora neste
mesmo lugar que também conheci a única mulher que amei... Amo...
Chegamos a Londres
ao meio-dia, Diego queria ir logo para o Scarlate’s estava de cabeça quente e
queria começar a passar o som o mais cedo possível, só não fomos logo porque
consegui convencê-lo à descansarmos um pouco antes. A viagem é curta entre
Verona e Londres principalmente quando é feita de avião como a que fizemos,
mesmo assim era cansativa e ainda tivemos atrasos no voo por conta do mau tempo.
Já passava das
quatro da tarde não conseguia mais segurá-lo e quase brigamos por isso...
- Anda Luca!
- Cinco minutos
Diego, só estou te pedindo cinco minutos dá para ser? – aparecendo com uma
escova de dentes na boca.
- Não! Não dá para
ser – batendo a porta do apartamento que acabara de abrir – Só te dou dois
minutos para acabar de escovar logos esses dentes – olhando-o furioso.
- Não sou o Flash!
– devolvendo o olhar ao irmão só que horrorizado pelo tempo que lhe dera para
escovar os dentes – Para escovar os dentes em dois minutos Diego...
- Para que essa
demora toda para escovar os dentes se você não vai beijar ninguém hoje? – aos
berros
- Como é que é? –
assustado
- O que, o quê? –
se irritando cada vez mais
- O que você disse?
– se aproximando do irmão ainda com a escova no canto da boca
- Para de besteira
Luca, eu não disse nada – jogando a guitarra no sofá
- Diego! Sei que
está irritado por conta da Giulia...
- Não estou
irritado! – entre dentes
- Está sim! –
olhando-o ferozmente – Não minta para mim. Adesso[4]
não jogue a sua raiva em cima das pessoas, principalmente em mim...
- Não estou com
raiva e muito menos a estou jogando em você – cortando o irmão novamente.
- Não está com
raiva? – aos berros e com um sorriso torto no rosto – Per favore Diego! –
lançando os braços aos ares – Não minta para você mesmo e muito menos para mim
– cutucando-o com a escova de dente.
- Tira essa escova
de perto de mim Luca – batendo na escova que cai ao chão – Não estou mentindo
para ninguém, muito menos para mim e não estou com raiva, apenas quero ir logo para o Scarlate’s
afinar os instrumentos e passar o som de uma vez dá para ser?
- Escuta bem o que
vou te dizer Diego – olhando o irmão bem de perto – Todos sabem que você não
ama a Giulia e não entendem porque fica com ela amando a Alessa...
-Eu não...
- Não me interrompa
– falando mais alto e sério – Você ama sim a Alessa e é por amá-la e não falar
que sofre tanto assim. Giulia diz que te ama, mas não Diego ela não ama você e
esse sentimento é recíproco da sua parte, já que também não a ama, o sentimento
que tem por ela é apenas de amizade e tem que colocar isso de uma vez por todas
aqui dentro oh. – apontando para a cabeça do irmão – Adesso não venha descontar
sua raiva em mim, por que isso não vou admitir nunca e muito menos dizer que
não vou beijar ninguém, porque entre nós dois o único que beija mais aqui sou
eu e pode ter certeza que está noite vou beijar mais ainda, me apaixonar e
viver intensamente cada minuto, segundo e milésimo de segundo do meu tempo com
a mulher que irei me casar, ter filhos e viver literalmente até que a morte nós
separe – falando firme e o olhando nos olhos do irmão – Ao contrario de você
pretendo sentir e não apenas cantar sobre o amor e se eu fosse você, terminaria
tudo com a Giulia assim que chegarmos a Verona e correria para o Brasil e me
declararia para a Alessa...
- Ela não... me
ama!
- Como você pode
ter tanta certeza disso?
- Você mesmo disse
“todos sabem” e ela também e nunca falou nada... – fitando o chão – Ela só me
ver como amigo...
- Ela nunca falou
nada, simplesmente porque quer que você diga algo sobre isso – falando como se
entendesse todas as mulheres do mundo – Alessa também te ama, mas ela é turrona
como o Carlo e a Margarida, nunca vai dar o braço a torcer e você meu irmão. –
fazendo Diego olhar para cima – Te conheço e também sei que não quer dar o
braço a torcer e nisso os dois se empatam e sofrem por não conseguirem viverem
o amor de vocês – dando um meio sorriso
- Os cinco minutos
que você pediu já acabou, podemos ir agora sua fada do dente alcoviteira –
rindo
- Não, ainda não
terminei de escovar os dentes – voltando ao banheiro
[1] Apelido carinhoso dado por Luca a Giulia que
significa travesti.
[2] 2tto e Domino, foram os outros nomes da
banda a one se passa quando a banda se chamava pelo ultimo nome. Com o tempo
eles modificaram o nome da banda até chegar a Sonohra que possui dois
significados o primeiro é o nome de um deserto no México que leva o mesmo nome
e o segundo por conta da Sonoridade da Música, não só deles como em geral. Em
italiano se pronuncia “Suonora”. E sim é com um H no meio.
[3] É um dos maiores festivais de música
italiana (Festival della canzone italiana), onde Sonohra ganhou em 2008 na
categoria “Giovani”, entre os ganhadores conhecidos alem deles estão também
Eros Ramazzotti, Luis Miguel, Laura Pausini, Tiziano Ferro, Andrea Bocelli
entre outros.
[4]
Adesso = agora.